Astronauta da inovação: Camila Pereira de Oliveira

Em homenagem aos nossos astronautas, nome dado aos alunos do MBI, aqueles que chegam aonde quer, ou que fogem do mundo rotineiro para se encontrar,  iniciaremos um quadro chamado “Astronautas da inovação”, no qual descreveremos as trajetórias de pessoas que têm alcançado destaque em suas vidas e carreiras através da inovação!

Para começar, vamos contar a incrível história de Camila Pereira de Oliveira, que lidera um grupo de inovação na Poyry, já coordenou projetos voluntários de grande impacto e discursou frente a 120 engenheiros na Holanda. Sua trajetória apresenta contrastes e iniciativas que vão te inspirar em muitos aspectos profissionais e pessoais. Preparado?

HISTÓRIA DE UMA BAILARINA ENGENHEIRA MECÂNICA

Camila nasceu em Ribeirão Preto – SP, sendo a única paulista de uma família de paranaenses. A maioria dos seus parentes eram funcionários de indútrias, por isso sempre gostou de colocar a mão na massa e viver uma infância ao ar livre, onde evitava o celular e aparelhos tecnológicos para brincar na rua, andar de bicicleta, se aventurar e sempre com um grande sorriso no rosto.

Com essa energia de sobra, desde muito pequena começou o balé e não parou mais, acumulou 15 anos de dedicação a esse estilo de dança, mas, Camila conta que nem tudo foi flores, por apresentar um problema na coluna, precisou ter uma disciplina exemplar para conciliar o amor pela coreografia com as dores de levar o corpo ao limite pela arte. Aos 10 anos, precisou ir para Curitiba, onde entrou em uma das melhores escolas tradicionais da cidade. Nesse lugar, Camila se sentiu como se estivesse num ambiente militar, cheio de regras, difícil para alguém com espírito criativo. Nessa escola, ela foi questionada se suas notas eram verídicas, sofreu muitas barreiras, porém em suas palavras – “por ser meio nerd” – conseguiu passar de letra a cada ano. Nessa época Camila conta que queria ser astronauta e estudava para passar no ITA.

Quando fez 16 anos, ela se mudou para Sorocaba. Deixou para trás a escola tradicional e descobriu o prazer de sair com as amigas enquanto estudava, dizia que antes colocava a escola acima de tudo, até mesmo da felicidade, e nessa época descobriu como conciliar tudo. Não querendo voltar para um “ambiente militar”, optou em seguir na  área de Exatas como engenharia mecânica na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, voltando para Curitiba aos 19 anos, nesse novo ciclo de independência, começou a morar sozinha e participar de várias iniciativas sociais e internacionais. 

INICIATIVAS QUE MUDAM VIDAS

Um projeto que Camila amou contar foi o de ser voluntária na TETO, organização que através de iniciativas sociais procura garantir o direito à moradia nas favelas mais precárias e invisíveis da América Latina – tendo como principal objetivo: acabar com a extrema pobreza. Nossa Astronauta conta que todo domingo se deslocava para uma comunidade, muitas vezes localizada num aterro sanitário, par auxiliar as liderança locais à resolverem dores e problemas que os moradores enfrentavam. Ela lembra que um dos pedidos das famílias era dar nome às ruas a fim do correio chegar com cartas e presentes de familiares distantes, além do sonho de construir suas próprias casas. Essa experiência mudou a vida de Camila, segundo ela depois de vivenciar tudo isso, ficou totalmente mais idealista e intolerável contra  injustiças. 

 

Depois surgiu a oportunidade dela participar do Ciência Sem Fronteiras, ficando 6 meses na Holanda. Era a única mulher do grupo e por isso sofreu alguns preconceitos, Camila conta: “toda vez que tínhamos que fazer uma tarefa, sempre eles pegavam as mais complexas e deixavam as secundárias para mim”. Segundo a astronauta, deixavam todas as questões de Materiais com ela, sendo que na faculdade Camila tinha feito Iniciação Científica em Térmica, uma das matérias mais difíceis da engenharia mecânica. No projeto, tinham que desenvolver um carro de corrida, e por estar em solo estrangeiro passou a sofrer outro tipo de barreira, a de ser brasileira, segundo ela os orientadores do projeto disseram que dependendo de como fosse o desempenho do carro, eles fechariam as portas da competição para o Brasil, além de questionar sempre que possível  os métodos utilizados.

Mesmo assim, o grupo da Camila criou um protótipo totalmente diferente, superando todas as barreiras e inovando em muitos processos mecânicos, o que resultou em muitas críticas por parte dos orientadores no começo, mas após dar certo – resultou em uma chuva de elogios. No final da competição tinham que apresentar na frente de uma banca de mais de 150 engenheiros, e por ser a que melhor falava inglês do seu grupo, todos disseram para ela apresentar, um belo “plot twist”. Camila arregaçou as mangas, subiu no palco na frente de todos aqueles engenheiros sendo a única mulher no ambiente e  discursou com louvor, ganhando a competição.

UMA PROFESSORA NO MUNDO CORPORATIVO

Quando voltou da Holanda foi trabalhar na CASE, que apresentava um ambiente com mais mulheres trabalhando, porém Camila conta que ainda sofria alguns tipos de comentário, como: “olha você tá carregando isso, olha como ela é forte”. Porém, dessa vez não deixava passar e começou a responder a altura todo tipo de comentário misógino. O que acabou desencadeando no chefe dela, o medo que ela roubasse o cargo dele na empresa, não querendo mais gastar energias nesse ambiente optou por sair do mundo corporativo e encontrar um ambiente onde ela poderia inovar e agir sem a rigidez machista, 

Então, lembrando de seus dotes com a língua americana, Camila foi dar aula de inglês. Entrou na Teacher Laura, escola de inglês com turmas de 6 a 56 anos. A Astronauta conta que nos primeiros anos foi maravilhoso, via resultados mais rápidos e não encontrava barreiras para sua criatividade. Um momento marcante para ela, foi quando em uma das aulas do período, uma aluna saiu chorando de emoção, dizendo que a Camila era a melhor professora do mundo. Percebendo essas conquistas na prática, ela começou a inovar e trazer novos métodos. A escola dava apoio, estruturou um grande projeto de reciclagem para os alunos, e as crianças começaram a entender sobre sustentabilidade. Foram muitas recompensas, mas nossa astronauta começou a sentir uma inquietação interna, por estar sozinha sentiu frustrada, queria aumentar seu impacto, porém não conseguia ter mais pessoas na sua “equipe”. Não querendo ficar estagnada em aprendizados, descobriu o MBI. Segundo ela, um amigo próximo falou que foi no meio da floresta Ipanema (imersão em Biomimética) através do MBA que participava para estudar inovação, ouvindo isso Camila se encantou pelo curso e começou o MBI em 2019. Camila relata: “aí me encontrei de vez,  o módulo self pra mim foi sensacional, estava na vibe de astrologia e autoconhecimento, e ajudou a colocar o pé no chão, ainda mais por eu ser engenheira, ali senti a vontade de voltar para o mundo corporativo e fazer a diferença”. 

LIDERANDO A MUDANÇA NO MUNDO CORPORATIVO

No meio do curso, Camila entrou na Poyry, uma consultoria de engenharia, e começou a usar todos os aprendizados do MBI na empresa. A astronauta conta que no módulo Corporate usou a empresa como case, colocando os métodos apresentados na prática, além de realizar várias reuniões de inovação. Nesse processo, descobriram que ela fazia uma pós em inovação e todo mundo começou a colocar ela como referência no tema dentro da empresa . Assim, em pouco tempo foi chamada para ser líder de inovação em seu setor e começou a estimular outras disciplinas da consultoria a também  ter grupos de inovação, e agora Camila conta que a Poyry apresenta uma estrutura  bem organizada de inovação. 

"A gente não quer ter mais ideias inovadoras, a gente quer transformar de forma inovadora"
Camila de Oliveira

Sobre essa experiência Camila Relata: “no trabalho foi um puta de um reconhecimento, antes eu era tratada como júnior e hoje as pessoas querem ouvir o que eu falo, foi um um senso de propósito muito grande, porque eu não tento só levar as ferramentas de inovação, eu levo o senso humano junto comigo”. Para finalizar, a astronauta conta que através do MBI conseguiu juntar o que era bom na escola com o ambiente corporativo, colocando os dois lados dela juntos: Antes da Pós eu não sabia disso, hoje eu encontrei uma brecha no sistema. 

“Engenheiro é muito pragmático, ninguém quer perder tempo investigando o problema, já querem resolver, a gente tem uma mudança a nível mundial aí, é questão de sobrevivência, não é mais modinha. O pessoal precisa ver valor, inovação não é papo.”
Camila de Oliveira

Hoje, Camila disse que não se tornou uma astronauta do espaço, mas se tornou uma astronauta da mudança, terminando nossa conversa com chave de ouro, me dizendo: “não sou uma engenheira comum, sou uma engenheira que traz o fator humano.” 

 

Renan Simionato
Renan Simionato
Renan é apaixonado por histórias de inovação e assessor executivo do MBI.

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